Resiliência organizacional e a importância dos atributos dos funcionários

15 mai 2024

Markus Gerschberger, Melanie Gerschberger e Scott C. Ellis

PESQUISA LOGÍSTICA
» Markus Gerschberger, professor em Upper Austria University of Applied Sciences (Áustria) e em Georgia Institute of Technology (EUA)
» Melanie Gerschberger, Professora Associado na Universidade de Ciências Aplicadas da Alta Áustria (Áustria)
» Scott C. Ellis, professor em Georgia Southern University (EUA)

A resiliência organizacional permite que as empresas enfrentem as disrupçõesm que se deparam

A resiliência organizacional é a capacidade crítica que permite às empresas e às cadeias de suprimentos enfrentar as alterações que surgem. No entanto, dificilmente existem pesquisas que o relacionem ao recurso mais essencial de qualquer organização: os seus colaboradores. As empresas criam estruturas e processos para melhorar suas respostas a diferentes cenários, mas são as pessoas que tomam as decisões que determinam os resultados e avaliam como será a recuperação após as interrupções.

Uma organização resiliente necessita de colaboradores capazes de responder rápida e eficazmente a eventos críticos. Então nos perguntamos as seguintes questões: Quais são os atributos mais importantes que fazem com que os funcionários resolvam com sucesso os problemas da cadeia de suprimentos? Como suas atitudes contribuem para a resiliência empresarial? Realizamos um estudo qualitativo com 44 entrevistas com diferentes cargos em quatro empresas do setor automotivo. Os resultados revelam que existem dez caraterísticas críticas que explicam como estas pessoas contribuem para a solidez de suas empresas.

Resiliência organizacional na cadeia de suprimentos

Se na psicologia, resiliência é a capacidade do indivíduo de se adaptar ao estresse e às adversidades, na literatura relacionada ao gerenciamento da cadeia de suprimentos este conceito afeta a forma como as empresas enfrentam eventos inesperados que dificultam o fluxo normal de bens ou materiais.

Para este estudo, múltiplos eventos foram analisados através de diferentes informantes. Foram escolhidas empresas de manufatura da Europa Ocidental que operam em cadeias de suprimentos globais no mundo automotivo. Neles, as interrupções podem causar perdas econômicas significativas que chegam a US$ 40 mil por hora em cada linha de produção. Entrevistamos funcionários ativamente envolvidos na resolução de incidentes. Seus perfis variavam em experiência, posição e departamento. Os nomes das empresas foram mantidos anônimos, por isso iremos nos referir a elas como A, B, C e D.

Descobertas: 10 atributos de personalidade

Nossa análise dos dados derivados do estudo detectou três descobertas principais. Primeiro, a resiliência organizacional se beneficia da capacidade dos funcionários de se adaptarem às mudanças no ambiente e interpretarem eventos ambíguos, ou seja, seus atributos cognitivos. Em seguida, os atributos emocionais desempenham um papel muito importante nas respostas das empresas. Por fim, os dados revelaram que atributos comportamentais, como prontidão, desenvoltura ou improvisação, são de importância vital para evitar, resistir ou se recuperar de interrupções. Todas essas descobertas se referem a 10 características de personalidade:

A resiliência organizacional é afetada pela capacidade do indivíduo de responder rápida e eficazmente a eventos críticos

1. Avaliação situacional

É o processo cognitivo que nos permite julgar se uma situação pode se tornar uma crise a curto prazo. Implica cautela, consciência e realismo. A detecção proativa de sinais de alerta precoce incentiva a prevenção de interrupções na cadeia de abastecimento. Pelo contrário, a falta de avaliação pode levar a graves perdas financeiras e operacionais.

Este foi o caso de uma das empresas participantes do nosso estudo. Após não ter previsto a falência de um de seus fornecedores, criou o cargo de risk manager ou gerente de riscos para identificar antecipadamente estes tipos de contratempos.

2. Experiência

A experiência é a soma do conhecimento prático e das habilidades adquiridas por meio da observação direta ou da participação em atividades e eventos. Ela facilita uma melhor compreensão dos eventos atuais. A análise revelou que a resiliência organizacional também melhora quando os veteranos compartilham seus conhecimentos com os novos colegas.

A gerente de logística da empresa C descreveu como sua experiência anterior a ajudou a evitar uma possível crise. Uma greve de taxistas estava bloqueando o tráfego nas proximidades de um de seus principais fornecedores, então eles decidiram pagar mais aos seus operadores logísticos 3PL para encontrar rotas e soluções alternativas.

3. Compromisso

Consiste na identificação com o negócio e reflete-se numa forte crença nos seus valores e objetivos. O gerente de qualidade do grupo D destacou que “o comprometimento e a lealdade são importantes porque resultam em menores índices de rotatividade e o conhecimento permanece na empresa por mais tempo, o que resulta “menos erros.”

4. Compreensão

É a capacidade de entender eventos e situações novos, surpreendentes, ambíguos, confusos ou inesperados. É especialmente útil em cenários sem precedentes que exigem respostas incomuns. Por exemplo, a empresa D descobriu que a falta de 400 rádios comprometeu sua produção de uma semana. Em vez de terminar os veículos em um turno extra, eles decidiram que era mais econômico transportar 400 rádios de avião.

5. Força emocional

É a capacidade de estar ciente dos próprios sentimentos e impulsos, dos fatores que os causam e da escolha do comportamento em resposta a uma situação crítica. É importante que os funcionários controlem suas emoções e mantenham a objetividade e o desempenho. As pessoas resilientes concentram-se no que podem controlar, veem os desafios como oportunidades e procuram maneiras criativas de enfrentar episódios estressantes.

6. Empoderamento

É descrito como um estado psicológico de motivação intrínseca e é promovido quando o poder e a tomada de decisões são partilhados entre pessoas hierarquicamente desiguais. O empoderamento traz consigo níveis mais elevados de motivação, criatividade e eficácia. Funcionários capacitados pensam, se comportam e agem de forma autônoma e assumem a responsabilidade por seus resultados.

7. Segurança psicológica

A percepção de um funcionário de que o local de trabalho é seguro para adotar comportamentos de risco visando alcançar resultados superiores. Este atributo os permite crescer, aprender, contribuir e desempenhar suas funções sem medo de parecer incompetente ao fazer perguntas ou admitir erros. “Não existem ideias ruins, a única coisa ruim é não ter ideia do que fazer num momento crítico. Não há tempo para julgar as ideias dos outros, mas é importante ser criativo e compartilhá-las com a equipe para chegar à melhor solução possível”, afirmou o diretor de operações da empresa A.

A preparação é um atributo essencial da resiliência organizacional

8. Preparação

É o processo de tomar medidas e fazer investimentos antes que eles sejam necessários. A preparação dos trabalhadores para as complicações da cadeia de suprimentos pode reduzir o tempo necessário para a recuperação do impacto. Isso também facilita o aproveitamento de oportunidades que, de outra forma, poderiam passar despercebidas.

9. Engenhosidade

Reflete o grau em que os funcionários se envolvem em comportamentos de autoajuda e buscam apoios externos para identificar soluções e atingir metas individuais e organizacionais. Esses comportamentos são estimulados por relacionamentos interpessoais que promovem a cooperação e facilitam o acesso a outros recursos. "A primeira regra é que eles devem tentar resolver os problemas por conta própria. E se não conseguirem, devem procurar ajuda", explica um gerente de cadeia de suprimentos da empresa B.

10. Improvisação

É o ato de encontrar maneiras de "se virar" com os recursos disponíveis. Em contraste com o atributo 8, preparação, esse atributo está menos ligado à rotina e exige respostas criativas ad hoc. "Às vezes, é preciso improvisar, encontrar uma solução e resolver o problema o mais rápido possível", resume o diretor-executivo do Grupo C. A improvisação também facilita os processos de recuperação.

Conclusões e conselhos práticos

O aprimoramento das capacidades organizacionais não é a única maneira de aumentar a resiliência organizacional, mas a resiliência pode ser aprimorada através de cada membro individual da organização. Este estudo também oferece ideias práticas de implementação para os gerentes.

  • As empresas devem investir numa cultura que valorize os colaboradores, a sua capacitação e segurança psicológica. Essa filosofia traz consigo outros benefícios indiretos como maior comprometimento e retenção de talentos.
  • Essa análise reforça a importância da capacitação e do coaching: é aconselhável treinar esses atributos essenciais. Uma opção é encenar ou simular interrupções durante períodos de estabilidade. Esses exercícios também podem ser uma forma de identificar deficiência.
  • Por fim, as empresas devem incentivar seus funcionários a inovar, tomar suas próprias decisões e aprender a assumir a responsabilidade por elas. Além disso, os gerentes devem convidá-los para reuniões e permitir que opinem. As descobertas também sugerem que manter a equipe durante períodos de crise aumenta o comprometimento e a lealdade.

 


 

Autores da pesquisa:

  • Melanie Gerschberger. Professora Associado de Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos na Universidade de Ciências Aplicadas da Alta Áustria (Áustria)
  • Scott C. Ellis. Professor de Gerenciamento da cadeia de suprimentos em Georgia Southern University (EUA)
  • Markus Gerschberger. Professor de Gerenciamento da cadeia de suprimentos em Upper Austria University of Applied Sciences (Áustria) e professor afiliado em Georgia Institute of Technology (EUA)

 


 

Postagem original: Gerschberger, Melanie, Scott C. Ellis, and Markus Gerschberger. 2023. Linking Employee Attributes and Organizational Resilience: An Empirically Driven Model. Edited by Richey R. and Davis-Sramek B. (Wiley). Journal of Business Logistics 44 (3): 407-37.

Este trabalho foi financiado pelo programa ‘Guideline to stimulate the development/expansion of future-oriented research fields at Upper Austrian non-university research institutions 2022-2029’ da Província da Alta Áustria.